quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Um pouco de água

Uma lágrima é como um pouco de óleo na máquina cansada
é um pulsar inquieto que lubrifica as entranhas, estremecendo-as
é um suspirar dos olhos castigados pelo esquecimento de um sertão.
Uma lágrima é chegada, é partida, é espera.
é timidez e é impulso
e é refúgio.


Decidida como a noite, ela escorre como o céu em fim de tarde e brilha na ponta do queixo, encontrando a pele suavemente e se atirando abismo abaixo.
A expectativa de abraçar o mundo motiva o impulso derradeiro e lá vem o mergulho, outra lágrima encontra o infinito.



*Iluminura de Martha Barros

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

As palavras acreditavam que possuíam asas
As palavras acreditavam que podiam dançar no espaço entre o sol e a lua.
Tímidas, elas sonhavam que coloriam as memórias e que disfarçavam as olheiras do tempo.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O gosto era de infinito

Hoje tinha gosto de espaço, de finito tempo esvaído em largos passos depositados um após-o-outro, um após-o-outro no solo de terra fértil, imaginativamente fértil. O contato dos dedos com o ar de fim de tarde e o confronto visual que o pôr do sol disponibiliza fez-lhe perceber que no silêncio os pássaros e as brisas nos reviram com uma sutil intensidade. O gosto era de infinito, de vazio absoluto.
Na mesa, as letras invadiam o tempo e o espaço.
Espaço de carne, tempo de memória.
Na ponta do lápis, a proposição de um universo.
As ideias brotavam ora tímidas, ora temerosas, ora egocêntricas. Elas fingiam que eram únicas, donas de si e do mundo. Iam pelos rios, pelos fios, pelas veias e pelos olhos, transbordavam-se todas, até que outros universos as encontravam, as confrontavam. E, frente a frente com outros modos e hábitos achavam graça, pensavam farsas, corriam soltas. Tocavam as carnes, puxavam os fios, empurravam as veias, assopravam os olhos.
Nos dedos e nos lábios o gosto do tempo, o sabor da história.






sábado, 10 de novembro de 2012

De maneira que...

Enquanto lia outra memória, sentiu um arrepio profundo.
Uma fome de rodas, um desejo de palavras vivas, pulsantes.
Pensava em como seria bom se as palavras viessem mais do que os silêncios, do que os silenciamentos.
Depois ruminava: 'Não que os silêncios não fossem indispensáveis', mas causava espanto que eles se vestissem de silenciamentos e insistissem tanto em aparecer no lugar dos confrontos, dos dizeres de carne, osso e pulso.
Depois sussurrava temerosa: 'Não que não dizer não fosse poético',
mas é que dizer coloria as formas, musicava as letras, provocava o olfato, o ouvido, o olhar.
Em seguida, tomava coragem: 'E quem sabe o tato e o ato não fossem convocados, nessa história, a experienciar os modos de mexer no mundo?'
E pensava: 'onde foram parar os dizeres de outros jeitos, os dizeres de outros lugares?'
De que nome seriam chamados? Com que propósitos seriam convocados ou esfumaçados?
Pensava.
Temia perder o jeito com os fazeres.
Lia outra memória, enquanto havia enquanto.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Refugiados


Fugiu de si pela janela!
Com tantos nomes e sem nem um, nenhumzinho.
Deixou a cama bagunçada de livros, o café na cabeceira, renovado a cada hora.
Abandonou montes de palavras caçadas ao sabor do chá de menta intercalado.
Deixou o papel e a caneta, depois
Se entregou à vista da janela, contou conchas na gaveta, foi correr ao som da noite.
Retornou com areia nas cabelos e com barro nas entranhas
Quis ouvir a melodia do ronrono dos meninos
saltadores,
malabaristas da sala, do quarto e do quintal.
Dos escaladores de pernas, com bigodes de orelha a orelha.
Melodia de olhos aureados, dos passos elegantes,
e de uma silhueta impecavelmente confundida com a alegria de ser.
Quis sentir o pulso atento
na melodia do ronronar ouvida de perto, a doce melodia dos olhos que falam
distraindo o coração.
Refúgio leve,
Recanto certo.



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

uma saudade.

Uma saudade de coçar o céu da boca,
de apertar artéria torta, de sentir gosto de tempo.
Um desejo de comer pitanga no pé,
de ouvir LP contando fábulas, sentada no chão da cozinha, enquanto aprende a fazer tranças.
Uma vontade de vento nos olhos,
de brisa no balançar dos cílios do alto da garupa.
Ou no alto da primeira corrida apostada de bicicleta.
Uma memória de raspar os tachos e de esconder as provas do crime.
Lembrança de casa na árvore, de corrida no milharal, de joelho na terra e de tesouro secreto.
O anel de brilhantes do doce da padaria, o entardecer na praia.
Doce, doce saudade.
Risos entre lágrimas, sons dos primeiros passos, feijão queimando na panela.
Uma vitrolinha partida, um anjo sem asas.
Uma saudade das palavras de antigamente.

Assim, despertara Doraleia, cheia de memórias, transbordando de sentidos passados e futuros, entrelaçados no hoje.

Hoje é dia de saudade, pensava insistente.

sábado, 1 de setembro de 2012

Um fiapo de sol

O sol estava quente, de escaldar as memórias.
Um fiapo de tempo recordava o movimento constante das ideias.
Enquanto as veias escancaradas exalavam o sentido da vida.
Gota a gota, dia a dia, linha a linha.
O sol penetrava na pele, agitava as gotas, perpassava os dias e exaltava as linhas, inclusive as de expressão.
No peito o pulsar era descompassado, nada de um 'tum' depois do outro, a coisa estava mais para um "tim", para um "bum".
Na cabeça, nada de uma ideia depois da outra, às vezes, tudo, outras vezes, ecos e noutras ainda uma sinfonia apurada, controladamente organizada.
Nos olhos, um vitral.
memórias de ontem, de hoje e de depois.
O sol estava quente e refrescava as lembranças: passos no barro, voos de balanço, saltos de cascatas imaginárias, caças aos tesouros.
Doces memórias que o calor evocava, despudoradamente.
Na vitrola, nada além do som do vento arremessando as folhas umas contra as outras.
E as ideias sussurrando um emaranhado de sentidos, de melodias inesgotáveis.
O sol entrou na retina e ecoou na carne.

domingo, 26 de agosto de 2012

memórias enlatadas

Uma ausência intranquila no silêncio do jardim dos pomares aliceanos.
Uma reticência insistente e uma página em branco, insinuante e delatora.
Verso, anverso, lado a, lado b. Segue a trilha.
Discreta sensação de ar fresco e um vento emoldurado na sala.
A noite vista do 9º andar, a lua dedilhada em versos.
A gramatura do papel de parede do quarto e a textura de memória de sol, enfeitando o espaço do mundo todo.
Navegações ludibriosas em curvas de letras.
Um passeio a céu fechado.
Teto estelar de mil ideias cíclicas.
Delineamento da palavra "e-di-fi-ca-ção"
Mergulho de memória, reconstrução de sabores revistos no espelho.
Uma tarde vira noite e a noite vira história.
O céu imaginado de estrelas e bordado de nuvens roseadas, de um rosa acinzentado.
O dia ganha nome, ganha cor e vira tempo.
Nas molduras do meu vitral, um pouco de sal e tonalidades de gosto.
Fiz uma pintura de mente, criei um céu daquele jeito que a gente pensa que sabe, que a gente jura que vê quando ainda é de infância.
13 riscos, cinco voltas e umas cores.
Tinha som de gorjeio e suposições de criança. 



terça-feira, 31 de julho de 2012

Fragmento

Frag
F
  R
     A
G
FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF
RRRRRRRRRRR
A
G
M
Fragm
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
F
R
A
G
ME
N
   t
OoOooo
Fragmento
Fragmentos
Tudo gira na lógica do pedaço
na ideia da parte representativa
é Clarice
é Verissimo
permutados.
Caio Fernando Abreu e as dicas de amor eterno
e as dicas de "carpe diem"!
Com imagens, pedaços de vida representando a felicidade proclamada, o anseio pelo fragmento ideal.
O alegre compartilhamento do fragmento mais fragmentado.
São pedaços, pedaços de gente, violências e violações suculentas.
Fragmentos.
Olhares ligeiros.
Atenção desviada.
A vida de um passageiro de trem, trem bala, eternamente obcecado pelo quadro que velozmente se faz e se desfaz, de uma paisagem a outra, de uma passagem a outra, de uma paragem a outra.
Frag
       men
              to
s.
.
a história encaixotada.

Clarice e o carpe diem.
Verissimo e o senso comum.
Caio Fernando Abreu e a alegria de viver.


Tendências??

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Prenúncio  de um sol que se foi.
turbulência à vista
Incompreensão mútua e uma fatal ausência de tato
O olhar? de punição, desde o cantar dos orvalhos até o piar das corujas.
um questionamento:
"Faz diferença o que se pensa?"
outro questionamento:
"se é melhor quando se vai embora?"
e ainda:
"faz diferença pensar quando já não se tem o tato, o contato, o sentido?"
- Bom mesmo era dizer de tudo, ali, na hora, sem temores.
- Mas e o risco de apressadamente concluir um mundo inconcluso?
- Ah, provisoriamente.
- Evitando o caos?
- Amaciando os contextos.
- Prolongando os aprendizados?
- Construindo a experiência.
- Mas se desse, a gente entrava numa casinha de caracol e andava pelo mundo, desbravando horizontes, construindo experiências, movendo ideias, de cá e de lá.
- E iria embora quando a saturação se revelasse?
- Não sei. Talvez sim, talvez não.
- Como saber.
- Evitando o caos?
- Modalizando os dizeres.



Se eu pudesse
choveria em mim.





terça-feira, 10 de julho de 2012

de um tempo

Hoje, Doraleia despertou depois de um tempo
foram anos, longos anos por entre brumas delicadamente construídas
A menina Doraleia, entulhada de costumes, de hábitos considerados toscos, 
olhou-se no espelho
Tanto tempo passado
formas esquecidas, ideias trasmutadas, contornos esfumados
E tudo bruma,
um imaginário habitado por manias de ego, por vontades próprias, por descuidadas pretensões
Mas, hoje, bem hoje, as brumas deram pra se desvanecer
e, lentamente, os olhos, a boca, os cílios, os contornos dos ombros, as mãos
toda a silhueta se refazendo diante de si, diante dos outros, diante da superfície espelhada
Doraleia observava-se, ruminava em seus pensamentos ideias de si, de um outro si, um si desconhecido, nunca avistado com aquelas formas, formas de dúvida, de incerteza, de ansiedade.
Observava detalhe a detalhe, minuciosamente, como se pudesse ir compreendendo para onde o outro si a levaria.
O olho olhava para dentro e via cá fora
enquanto fios prateados brindavam-lhe a vista
encenavam para ela a passagem dos dias
dias de esquecimento, dias de coragem, dias de dúvida, dias de solidão.
Menina Doraleia deslizava frente ao espelho, rente a parede, devagarinho, até que os joelhos tocassem o chão. 
As mãos no rosto 
os olhos no horizonte
e as veias pulsando vibrações de folhas tilintando em forma sonora de varais abarrotados em  dia de ventania.
Ventania que levara a bruma, espalhando-a por todo o espaço
A bruma agora é parte.
Doraleia, menina Doraleia das unhas ruídas e dos olhos de pintura escorrida,
ventanias e brumas mudando-lhe os rumos
outra vez.

Me caiu uma gota dos olhos
um arrepio brotou do meu ventre
Olho e olhos atentos
nas palavras de vida, de mundos pequenos
de imensos Juanitos
de infindas Doraleias
Com dizeres de gostos, de cheiros e sons
Por imagens que bailam, deslocam, instigam
singularmente ditas e reditas
ontem e sempre
nunca e agora
Como pode o dizer causar tantos zunidos?
Impressões de vivências cravadas na carne, suspensas do espaço.
Impressões de delírios, de esperas e anseios.
Um arrepio no osso
na mente
no espectro
me invade, me encontra de cheio.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Uma história.

- Juanito, Juanito, o sol se pôs outra vez.
Vem brincar cá fora, Juanito!
Juanito, Juanito inventa uma daquelas histórias e pinta o céu de outras cores?
Juanito das pernas de meias, dos olhos de cera, da boca de melancia e das ideias de ventres, dos passos de nuvens, da vontade de fome, da ânsia e enfastio, me conta uma história?
Preciso dormir, queria te ver, preciso esquecer, espero mudar.

Apagaram o céu, Juanito! Acenderam estrelas,
me conta uma história?

História de alguém, continho de vida com sabor de pitanga e cheiro de mar, de mar de manhã com sombra de lua e desejo de areia arrefecida de noite, de luz apagada e de barulho de vento.

Tenho medo do escuro, Juanito, me inventa um segredo, me dá um mistério, me atira no mar, me espera na areia?

Juanito:
criado em cativeiro, fugitivo das muragens, herói dos sem-nação, explorador das perguntas, contador de histórias.



domingo, 24 de junho de 2012

Equilíbrio

Estado
sustentação
ideias empiricamente comprovadas
Forças opostas em disputa
Energias da existência confrontadas: o centro, o riso, a seriedade, o descentramento, a fé, a ilusão, a dúvida. Embates não dicotômicos, mas caoticamente organizados por uma lógica pré-determinada, disfarçadamente assumida.

Fomos ao mundo, cantar nossos hinos, escrever nossas histórias, contar nossas experiências e provar dos sabores e dos amores, mastigando novas perguntas.

Hoje o sol se ergueu diferente e se pôs ao contrário. Tive medo do tempo e dos desejos esquecidos. Tive fome do ar e do cheiro das coisas, tive rompantes de crença e chorei com as lembranças. Lembranças vividas e lembranças pretendidas. Quis ouvir nossas vozes que soavam desatinadas, quis rir das ideias e estender a toalha sob a areia desfeita, ouvindo a poesia do mar e os burburinhos das conchas.
Olhei pela janela e me perdi na silhueta do vento. Fechei os olhos e respirei por um momento o mundo da vida. Revivi a ideia da amarelinha e pude recordar um sentido de equilíbrio, uma doce sensação de forças em disputa, um estado de sentidos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tudo era.

Lamiaceae!
          Lamiaceae...
                              Lamiaceae...
Uma voz sussurrava impaciente, esperando que algo acontecesse e que o mundo desse voltas e reviravoltas que contrariassem toda a ideia de um universo in-acabado.
Revirados estavam todos os sentidos, enquanto a paisagem desfazia-se diante de nossos olhos, feito algodão mergulhado numa poça gigante de desejos. As cores misturavam-se, o verde já se acinzentava, o amarelo distraía-se no azul, enquanto o rosa perdia-se na confusão das cores.
Confusão, tempestade de sensações que invadiam a alma do nosso ser e que entornavam para além do corpo. Perguntas, questões, insanas dores que arranhavam o peito e que dilaceravam a forma mutável em infinitas partículas. Partes agora flutuantes.
O peso da dúvida, da inquietação em meio aos silenciamentos e às acomodações simulavam uma incoerência do sentir que atingia no cerne o pulsar de todo o corpo.
Enquanto a paisagem diluía-se, misturava passado, presente e futuro num só borrão. Tudo ia se desfazendo: cores, janelas, portas, paredes, palavras, ideias, pilares, pensamentos, silêncio...
...
...
...
.................................................................................................................................................................... E no princípio tudo era caos    
....................................................................................................................................................................

A paisagem agora desfeita, sem fronteiras ou limites e tudo era tudo e nada era tudo e as perguntas e as dúvidas e as dores e os medos e os risos estavam agora condensados na forma amorfa de uma paisagem qualquer, sem nomes, sem prenomes.

E no princípio tudo era caos.



* Iluminura de Martha Barros.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Instante

A minha rua
na minha rua o caminhão melancólico e musical de anúncio do gás passa e conquista uma matilha uivante.
Prenúncio de "coisa ruim," diz a avó.
"Manifestação de vida", diz a mãe.
Minha vez de dizer, mas nada. Parece que o cotidiano mundo se perde na busca feroz por uma urgente ideia, por outro tempo, por um espaço outro. Mudo. Mutante.
"Filha, vem ver, é lindo!"
"Mãe, já vou, espera."
Espera... e lá vem outra vez a espera.
"9 meses esperei", diz ela. "Vem agora, não vais te arrepender, prometo"

... "A hipótese de que..."..."A formação do sentido e da identidade..."

O caminhão passou, a música entre o vital e o mórbido calou e eu, ainda aqui, peço a espera. Sem ao menos perceber que o tempo era este.
O que diria eu sobre o cantar dos cães da minha rua?
"é ciência demais, minha filha."

Ciência...

sábado, 2 de junho de 2012

Sem-tido!

Decidira somente correr, sair em disparada pra onde lhe desse na cabeça.
Julgara que as respostas estavam desgastadas e cansadas de perguntas pré-programadas pelo script de ontem.
Entendera temporariamente que os movimentos estavam disfarçados de outras ideias e que a superficialidade ganhava corpo diante dos subjacentes propósitos que regiam o movimento.
Decidira então mover-se, deslocar-se de uma ponta a outra, buscando outros dizeres que não corroboram-se com os 'de sempre', com os 'de ontem'.
Que distração interessante...
Mas a busca teria sido mais conclusiva, mais apreciativa, se os olhos tivessem enxergado, se estivessem atentos, ao menos.
Bobagem, inútil ver.
"Onde está o seu trabalho, senhorita?", "quanto vale o que você diz?", "em que lugar a senhorita pretende chegar com este tipo de boa intenção?"
Intenção?
Por que ainda escrevo mesmo?
Esqueci de fazer sentido.
"Como confiar em alguém assim?"
Manias de perguntador.


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Entre um espasmo e um lapso
entre um dizer e outro
Por entre ausências e presenças remotas.
Um espaço vazio, um conjunto desabitado de espécies.
Sensação de solitude.
As palavras se foram, as ideias não bastam.
Os acordes ficaram pra estancar o vazio e pra acalentar o calor que ficou.
Por hoje, somente eles e estas ideias que agora, por agora, não me inspiram.
Ficou também um zumbido, um sussurro de
.............................
ditos já ditos e sempre reditos, sempre de uma maneira diferente, simples, sem propósitos, sem especificações ou acordos

"O universo não é uma ideia minha. 
A minha idéia do Universo é que é uma ideia minha. 
A noite não anoitece pelos meus olhos, 
A minha ideia da noite é que anoitece por meus olhos. 
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos 
A noite anoitece concretamente 
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso."


Aqui faz mais frio hoje.






 

sábado, 19 de maio de 2012

Hoje

Eu hoje perdi minha ideia, me desencontrei na paisagem. 
Esqueci que na carne a palavra arranha.
E que no estômago, as construções se dissolvem, se diluem no ácido cósmico do interno e se tornam diversas.
Diversas...
Eu hoje me esqueci que os sentidos escorrem e borram a superfície da tez.
Eu hoje percebi que chovia e que
Era nublado, ficou nebuloso.
Os pedaços dos termos ficaram suspensos, cada um decidiu não fazer parte a sua maneira.
Eu hoje chamei pelo tempo.
Ouvi o Silêncio, não daquele que diz, mas daquele que sabe que não quer dizer e que não vai dizer, ainda que eu suplique, que eu implore e que prometa não mais invocá-lo.
Ele não veio.
Retornei às palavras, abracei-as ardorosamente como se nelas pudesse recuperar algum bocado do tempo.
Ouvi sussurros estonteantes.

"Fico quieta.
Não escrevo mais. Estou desenhando numa vila que não me pertence.Nao penso na partida. Meus garranchos são hoje e se acabaram." Ana Cristina me confessou  "Tenho medo de perder este silêncio"

Fechei o caderno, enxuguei meu olhar insistente . Ainda chovia. 
"Custei para me livrar."


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Na brisa uma imaginação, um refúgio encantado de uma solução horizontal.
Um abrir de olhares, um desabrochar de orvalhados sentidos.
Um teletransporte, uma viagem espectral por mil galáxias que se entornam em ideias de leites derramados.
Um sabor de encontro com o antes, com o agora e com o depois.
........................................................................................................................................................................
De antes, a lembrança do doce raspar de tachos, das ventanias dos cabelos nas corridas disparadas até o topo das moradias arbóreas, das divertidas confusões com as palavras, com os nomes, com os gostos e com as coisas, a lembrança dos poemas de amor, das fábulas inventadas com nomes vários, das coreografias ensaiadas com os passos em falso, das amizades eternas, das cartas de amor, dos códigos secretos, dos tesouros de futuros olhares embevecidos para o passado... das rodas, do escuro, dos medos, dos voos.
De agora, o momento, o compromisso, a responsável imagem do vislumbre. A fragrância entranhada na pele, nos olhos, nos lábios, nas construções de um agora que anseia, que se propõe a riscar nas superfícies planas e íngremes os ensejos, que se expõe por vezes timidamente e por outras inconsequente, voraz, espectador das expectativas, das análises de outrora e dos planejamentos de sabores dispersos num horizonte, numa janela de vidro, numa imensa bolha-bola de sabão que atravessa os espaços e os tempos e as histórias.
Chega o depois, que já outra vez agora. Viagem submersa que irrompe as barreiras das peles adormecidas e já esquecidas do doce, do sobressalto, do ventaniar nos olhos e de soprar o mundo e de correr em círculos com os braços abertos e o coração em pulsos descompassados, desritmados, sorri-ar-dentes.
O encontro e o gosto da natureza delicada dos seus versos.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Lágrimas pingadas de ensebar o vento
Distrações atentas
Lamiaceae voltava divertida de suas férias e se invocava com os pulsos estabilizados.
Gostava mesmo era de causar suspiros e de ver o vento bagunçar as faces espelhadas de uma noite diurna.
Investia nos engasgos de poças luminosas que emanavam dos arfares cansados dos peitos inóspitos, fechados em suas percepções tranquilas de um caos teórico, cultural.
Insurgia-se contra as preocupações distanciadas, discursivizadas.
E adentrava os espaços entre uma córnea e um espamo e apertava os átomos até que eles girassem, até que provocassem ondas e farfalhassem.
Provocativa como sempre, dolorosa como nunca.
Primeira pessoa:
Meus anseios tomam forma e eu me encolho na maresia das provocações de memória, curta, média e longa e ouço um mantra, me recolho na esperança de ultrapassar a fina película que nos impede de ver/ser.
Pairo lágrimas bem densas, todas em mim.


segunda-feira, 9 de abril de 2012



Sorriu com os dentes todos e abriu os braços pro vento.

Atirou-se delicadamente num movimento de ares e decidiu que seria, dessa vez, diferente.

Inspirou profundamente até as pálpebras dos átomos tocarem-lhe saborosamente os volteios dos folículos da epiderme e da derme.

Moveu-se, agitou-se, fez-se de mar revolto em dia de calma paisagem embrutecedora e sorriu.
Tranquilamente
Cogitou ideias e debruçou-se sobre elas, atento, feito infância, feito vento de janela, feito som de nuvem que se invade 
e
sentiu o cheiro, o entusiasmado cheiro de mudança, de significações outras e com todo o ar que pôde sorriu, com dentes e tudo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Flutuador.

O que mais a gente vê flutuando nas ideias pelos ares?
Uma espécie de forma-pedaço de ser que almado recorda as sutilezas do que fomos, do que nos tornamos e do que poderemos vir a ser neste breve, neste brevíssimo tempo/espaço que nos "intrometemos" a ocupar. 
                                                                                 E
Brincamos, nós, eu, eu quando outro, outro quando eu, tu quando comigo, eu quando com aquele. Brincamos de comer estrofes e de cantar vertigens, de solfejar passagens e de fingir descobertas, de proclamar espetáculos (i.né.di.tos) – Risinhos de contentamento e, se eu quiser, de contentação.
Brincamos ainda de planejar e cultuar pequenas partículas, pequenas, ínfimas pétalas de ser, de estar em tantos e em poucos, de projetar imagens, de provocar imaginações concentradas, compenetradas no olhar de órbitas multiversas.
Devaneamos juntos, evocando e sussurrando ideias divertidas e estonteantes, povoadas de universos paralelos, de pontos, de partes, de oculares (des)(re)vistas. 
Ar-dilosa-mente.
Ao meio, 
Vertemos poças pingadas em sorrisos levianos e por perguntas dolorosas e vaguezas de lembranças derretemos lentamente como se o tempo já não pudesse compreender que os espectros se projetam em espaços luminosos e obscurecidos pelas próprias vaguezas distraídas.
E nós, aqueles que ainda representados por eu+tu+ele mais todos ou mais poucos ou menos alguns, continuamos a supor que a nossa maneira de brincar de mundo é a mais exata, a mais contável, a mais graciosa.

E continuamos, sem ao menos compreender bem que rituais movem todo esse multiverso das ideias - seres - coisas - sentimentos – vontades, fingimos que inventamos a melhor ideia de mundo e pronto.

Eu grito, se eu quiser.
Eu corro se eu achar melhor.
Eu invento uma história.



"inventando com pedrinhas"

Eu gostava mesmo era de comer palavras e de mascar ideias, fazendo bolas-balões de pensamentos inventados.

Um pouco do sabor.

E depois de um tempo, retornar aos indícios.

quinta-feira, 22 de março de 2012

" "


  • E se doer, não doesse?
  • E se doer por não doer doesse pelo menos de outro modo?
  • e se os ardores se justificassem?
  • se ardessem de uma vez e pronto?
  • Era tudo passageiro
  • tudo de uma só vez
  • sem demoras, sem promessas, sem rodeios
    Mas, não. Assim, não.
    ...
    ...
    1+1+1+1+1+1
    e já
  • me derreto em consciências que nem sei
  • me questiono
  • me doloro
  • me desdobro
  • me agarro em resquícios de um olhar que nem sei se tenho
  • me remeto a mundos
  • me posiciono diante de espelhos e minuciosamente analiso
  • vejo contornos, vejo ruídos
  • e vejo espaços
  • espaços que o tempo mudou
  • brincou de dar formas variadas
  • brincou de severamente distanciar
  • de pôr no esquecimento, no meio do abismo
  • E se doer causasse alívio?
  • E se por meio de abraços nascessem estrelas?
  • e se as estrelas sussurrassem: "se dói, olha a dor e transmuta-a em saberes, em sabores e vai pelo mundo, sabendo que doestes porque doer é uma parte, é um pedaço de uma amarga xícara de um chá, de um x de questões, de olhares e mundos"
  • E se fosse apreensível? E se os xizes fossem outros?
  • E volto ao espelho e ele me implora: "Saboreie o saber que nasce, o olhar que adentra e que pede um lugar."

sábado, 10 de março de 2012

Intermitência


  • A intermitência da angústia que me engole e me distorce diante de meus espelhos ex- e interiores
  • o buraco gravitacional que me toca até a espinha
  • quantas lágrimas discretas me rolam e se acomodam no mais íntimo de mim
  • pulso em ânsia
  • Penso em constâncias pra ver se atenuo a ardência de alma
  • penso nas regularidades do espectro humano
  • penso na física
  • na quântica
  • na astrologia
  • penso na metrificada dor
  • e me verto
    E me esqueço.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

[ ]


E eis que o silêncio se sente,
Se faz necessário
Se torna o assunto, a matéria, o topo do tópico.
Enquanto
Ruídos incessantes,
Abruptos,
Incontornáveis provocam
pedem e exigem que o sujeito cognoscente, cognoscível evoque e expire um silêncio
E espere,
Aguarde ansiosamente que os pulsos desvairados
Transpirem e exalem o odor do silêncio, de um silêncio.
Num dizer sem falar, numa provocação de sentidos que assume e entende o tempo dos desconexos pensamentos:
Formar ideias
Pensar perspectivas
Gerar processos
Distintamente
Explorar universos
Perceptivelmente
Entender, provocar, extrapolar.
E enfim
Falar um dizer.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Alterare


Lá no fundo sempre pensando em dar jeito, em mudar os rumos, em fazer de modos distintos.
Lá no profundo, professando o recolorir dos comprimentos de ondas emanadas pelos úmidos espaços oculares, extraídos sutilmente das ideologias pulsantes.
Falta de imaginação
Ausência do que dizer
Linhas em branco em caráter ameaçador
Constantemente
Um ser pensante distraído pelas ideias do pensar,
Pelas crenças do saber, pelas vaidades do contar.
Um ser, outro ser
Um extrato do que se é depois de se ser

Encurral        
Impulsion
Atordo                                       ado
Acredit
Recomeç

Lá no fundo sempre pensando em dar jeito, em mudar os rumos, em fazer de modos distintos.
(Ecos tardios)
Pensando em como não pesar, em como não rascunhar
Metrificando o incontável
O incontável que se apresenta e que se dilui no caldeirão fascinante que nos transborda

Antes mesmo da reforma.