segunda-feira, 27 de junho de 2011

O processo

Quando me leio, sinto um arrepio de vozes, vozes que não me pertencem, mas mesmo assim me atravessam, inconstantes e determinadas.


Adentro discretamente o ambiente mais inóspito e voraz e sinto os resquícios de pulsações descompassadas.
Olhos flamejantes, sorrisos desvirtuantes,  ares desconcertados por memórias incompartilháveis. Discretos soslaios invadem o espaço-tempo-lugar. A porta entreaberta, a brisa insinuante, o poder em evidência e a expressão intermitente e insuportável de interrogações que não tem fim, nem princípio, apenas processo, apenas continuidade de um não - sei - o - quê que dói não - sei - onde. Ecos distantes, remetendo a um tempo que já não me pertence, mas que me contorna e me retorna ao alerta do domínio indispensável das ideias flutuantes e inflamáveis. A respiração embrutece, o controle é evocado, os receios não dão tréguas. Porto-me conforme o esperado, pausadamente pondero opiniões, cito palavras que furtei inesperadamente em poços alheios e que me adono sem pudor, nem rubror. Nada mais natural, nada mais necessário e gracioso. Torno-me acessível, porque cai bem, volto ao princípio que antes negava, para compactuar com a intersecção das intersecções de conjuntos amenos e seguros.
Junte as peças, forme figuras e tire as conclusões que desejar.

Desista da terceira pessoa, ela só confunde e conturba mais.
Deixe estar.
Volto em breve.

terça-feira, 21 de junho de 2011

E só por hoje.

Não canse minha beleza com discursos sórdidos, rasos, monológicos.
Deixe as reticências falarem quando o que tiver que ser dito estiver no não-dito.

Diálogos interiores que decidem quem deve vir à superfície:
Partes de mim enfrentam-se, a discussão parida, partida, refratada.
Em mim, mil reticências, infinitos exclamatórios, desgaste lexical, sintático e semântico;
Desgaste ideológico do pior que há, discursos circulares, espiralados.

 . . .

Retomo as palavras, retomo a primeira pessoa e as implicações que acarretam as dimensões intra, inter, poli, multi da auto-semi-consciência.
.
Retorna o ar, o rubro fluído de vida circula outra vez, em estado de alerta.
Procuro sinais, investigo sentidos materializados em lugares diversos, dissonantes, imperfeitos, distraídos, impunes. Me diverte, me comove, o que por hoje basta!








segunda-feira, 13 de junho de 2011

So(´)licito

Não sinto o ar em meu peito. Movimentos leves, sutis, infantis. Frágil sapiência que condena tudo aquilo que não consegue perceber. Ah, se eu pudesse, apagava tudo de uma vez e recomeçava em outro canto, em outra estrofe, por outros tempos.
Perdida a graça, encontrado o desejo.
Não.
No não concentra-se todo o desejo, toda a vontade do que não se pode ter, não se pode ver, não se pode crer.
Afaste-se de mim mórbida necessidade de ruir em mim mesma,
afaste-se, enquanto ainda circula o velho líquido intravenoso.
Sons cotidianos, lugares incomuns, gestos inconstantes.
Tragam de volta o brilho, a simplicidade, a intensidade.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

. . .

Na estrutura sintática de um olhar que sussurra
na lógica impossível de uma teoria inexistente
na busca incessante do algo a dizer
Movimentos inquietos deturpam por dentro
enquanto o fora sorri sorridente
Insistentes perguntas invadem, misturam, provocam
palavras inseguras brotam de lugares perigosos
o antes já não mais existido, já não mais partilhado
Silêncio
Retoma-se, retorna-se
as perguntas voltam, revolvem o íntimo
o olhar não diz nada
A bagunça está feita
O ensurdecedor revoar das ideias
Desencontradas
A diversão já começou, vai mesmo ali, adiante.
Pra que dizer? Pra que ser dito?
Suspeitas, suspeitam de que pra sempre aprisionados
num imaginário infiel não tenham algo a dizer.
Palavras demais, sentidos de menos.
Desconforto.
Brisa outra vez,
Deixe estar, volto amanhã.































sábado, 4 de junho de 2011

.Até.

Até que não seja,
até que as paredes notem
E os odores aprisionem o pensamento
E o medo se vá e retorne quando quiser
Até que não haja sequência
e o dizer já não tenha importância
Até que a ideia se forme, se torne real e
transite pesadamente por entre os seres que
a incorporam.
Até!
"Paredes, contem o que quiser."
Daqui, dali, os sentidos se clamam, impróprios,
sedosos, incongruentes.
esgotados
Os olhos cansam, a voz carece
de um desejo implícito de se manter ausente
uma visão, mil sentidos.