sexta-feira, 13 de maio de 2016

Mulher valente, sim!
Mulher que orgulha, sim!
A queda pelos acertos é o que dói e o que assusta.
Olhai e vê.
Somos uma piada como leitores, como participantes ativos de nossas comunidades, de nossos bairros, que dirá de instâncias outras.
Não sabemos como funciona o sistema de governo, não sabemos quem ocupou os ministérios, não sabemos quem os invade agora, mas se a Dilma saiu, estamos felizes, estamos vitoriosos. Uma partida de bafo vencida?
Uma celebração ao ódio é o que vejo. E a História dirá e lembraremos disso? Tenho minhas dúvidas, já que a formação do leitor, do sujeito que reflete sobre o que lê já está sendo mutilada. As indignações com o que poderia ter sido feito e não foi residem em mim, mas o que foi feito deslocou tantas possibilidades para os que estavam alijados da possibilidade de saber que tinham possibilidades que isso devastou os senhores e senhoras da manutenção do status quo.
E eu rumino em mim que se ao menos eles dissessem em alto e bom som que desejam tudo para si, que não aceitam mulher no poder, que incomoda a diferença, que incomoda o amor entre as pessoas, que desconforta profundamente o compartilhamento dos espaços e dos bens e que sua proposta de ressuscitação do que eles entendem por Economia é cortar direito trabalhista, sim, é cortar investimento em Pesquisa, em Educação, sim, e é desossar o Brasil entre os abutres que cercam há tempos a carne que ainda respirava.
Algumas dessas intenções se materializam em algumas Propostas de Lei (PL) e Propostas de Emendas à Constituição (PEC).
PEC 143/2015 - Desvincula a obrigatoriedade de investimento em Educação, Saúde e Tecnologia de 25% da grana enviada pelo Governo para isto.
PL 867 - prevê a inclusão de cerceamento nas escolas de discussões que invalidam na origem a proposta de formação de um sujeito que pense, que analise a situação em que vive para além da sua realidade imediata.
PL 3842 - retira da condição de crime a exploração do trabalhador. Quer dizer, que pode deixar a pessoa em situação degradante de trabalho, pode tacar nela uma jornada de trabalho a la século XVIII.
PL 4193 - tchau, CLT. Leis trabalhistas? Pra quê? O sujeito não precisa de 1h de almoço, gente. "Em 15 minutos todo mundo consegue comer algo e voltar pro trabalho"
PL 4193 - tchau, CLT. Leis trabalhistas? Pra quê? O sujeito não precisa de 1h de almoço, gente. "Em 15 minutos todo mundo consegue comer algo e voltar pro trabalho". (duas vezes de propósito)
PEC 171 - essa eu sei que um monte de gente aplaude de pé, mas tá aí, redução da maioridade penal acabando com a criminalidade no Brasil, quiçá no mundo!
PL 3722 - e pra completar, vamos começar a liberação mais frouxa do armamento, já que é bem assim que a gente vai reduzir a violência, e olhar pras pesquisas, que mostram o quanto isso tem sido devastador nos lugares em que tudo ok pensar que isso resolve, não precisa. (Ironia... tenho precisado avisar e isso me preocupa na ideia da formação do leitor).
PL 6583 - E lá vem o estatuto da família. Pra que isso, gente? Na boa... nem digo nada.
PL 478 - E a consolidação da hipocrisia em mais uma de suas facetas: criminalização do aborto e mais uma afronta aos direitos das mulheres e de toda uma discussão que não tem cabimento.
PLS - licenciamento ambiental especial para atender aos interesses dos grandões de cada cidadezinha desse país.
E há outras medidas e propostas, mas tem que ir atrás, ler e ler e ler.
Os discursos parecem de progresso, de segurança e de liberdade aos que 'merecem'. E aí, me parece que temos que ter mais claro o que exatamente a gente quer e pra onde a gente quer que o Brasil vá, mas eu não acho que as pessoas pensem efetivamente sobre isso, não acho que leiam mais do que as manchetes e depois escutem o Bonner, o Wack e sei lá mais qual opinador tendencioso.
E vejam que a questão de ser tendencioso é fingir neutralidade, coisa que não se faz quando se assume o que se está defendendo. Por isso, me incomoda, sim, que não digam ao que vieram e que sorrateiramente digam que fazem algo por um país que não conhecem e que não procuram conhecer, ou pior, que conhecem e desejam ignorar, destilando seus odiozinhos aos que não chegaram primeiro e que não ocuparam espaços privilegiados quando isso ainda era uma questão sobre a qual não havia legislação, ou que exploraram até a invalidez um punhado de gente que alimentava suas riquezas.
Pensar dói, imobiliza em alguns momentos, mas não aceito nessa vida menos que isso.
Dilma sofre por acertar. E isso é tão recorrente na vida que chega a doer no fundo.