domingo, 24 de junho de 2012

Equilíbrio

Estado
sustentação
ideias empiricamente comprovadas
Forças opostas em disputa
Energias da existência confrontadas: o centro, o riso, a seriedade, o descentramento, a fé, a ilusão, a dúvida. Embates não dicotômicos, mas caoticamente organizados por uma lógica pré-determinada, disfarçadamente assumida.

Fomos ao mundo, cantar nossos hinos, escrever nossas histórias, contar nossas experiências e provar dos sabores e dos amores, mastigando novas perguntas.

Hoje o sol se ergueu diferente e se pôs ao contrário. Tive medo do tempo e dos desejos esquecidos. Tive fome do ar e do cheiro das coisas, tive rompantes de crença e chorei com as lembranças. Lembranças vividas e lembranças pretendidas. Quis ouvir nossas vozes que soavam desatinadas, quis rir das ideias e estender a toalha sob a areia desfeita, ouvindo a poesia do mar e os burburinhos das conchas.
Olhei pela janela e me perdi na silhueta do vento. Fechei os olhos e respirei por um momento o mundo da vida. Revivi a ideia da amarelinha e pude recordar um sentido de equilíbrio, uma doce sensação de forças em disputa, um estado de sentidos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tudo era.

Lamiaceae!
          Lamiaceae...
                              Lamiaceae...
Uma voz sussurrava impaciente, esperando que algo acontecesse e que o mundo desse voltas e reviravoltas que contrariassem toda a ideia de um universo in-acabado.
Revirados estavam todos os sentidos, enquanto a paisagem desfazia-se diante de nossos olhos, feito algodão mergulhado numa poça gigante de desejos. As cores misturavam-se, o verde já se acinzentava, o amarelo distraía-se no azul, enquanto o rosa perdia-se na confusão das cores.
Confusão, tempestade de sensações que invadiam a alma do nosso ser e que entornavam para além do corpo. Perguntas, questões, insanas dores que arranhavam o peito e que dilaceravam a forma mutável em infinitas partículas. Partes agora flutuantes.
O peso da dúvida, da inquietação em meio aos silenciamentos e às acomodações simulavam uma incoerência do sentir que atingia no cerne o pulsar de todo o corpo.
Enquanto a paisagem diluía-se, misturava passado, presente e futuro num só borrão. Tudo ia se desfazendo: cores, janelas, portas, paredes, palavras, ideias, pilares, pensamentos, silêncio...
...
...
...
.................................................................................................................................................................... E no princípio tudo era caos    
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A paisagem agora desfeita, sem fronteiras ou limites e tudo era tudo e nada era tudo e as perguntas e as dúvidas e as dores e os medos e os risos estavam agora condensados na forma amorfa de uma paisagem qualquer, sem nomes, sem prenomes.

E no princípio tudo era caos.



* Iluminura de Martha Barros.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Instante

A minha rua
na minha rua o caminhão melancólico e musical de anúncio do gás passa e conquista uma matilha uivante.
Prenúncio de "coisa ruim," diz a avó.
"Manifestação de vida", diz a mãe.
Minha vez de dizer, mas nada. Parece que o cotidiano mundo se perde na busca feroz por uma urgente ideia, por outro tempo, por um espaço outro. Mudo. Mutante.
"Filha, vem ver, é lindo!"
"Mãe, já vou, espera."
Espera... e lá vem outra vez a espera.
"9 meses esperei", diz ela. "Vem agora, não vais te arrepender, prometo"

... "A hipótese de que..."..."A formação do sentido e da identidade..."

O caminhão passou, a música entre o vital e o mórbido calou e eu, ainda aqui, peço a espera. Sem ao menos perceber que o tempo era este.
O que diria eu sobre o cantar dos cães da minha rua?
"é ciência demais, minha filha."

Ciência...

sábado, 2 de junho de 2012

Sem-tido!

Decidira somente correr, sair em disparada pra onde lhe desse na cabeça.
Julgara que as respostas estavam desgastadas e cansadas de perguntas pré-programadas pelo script de ontem.
Entendera temporariamente que os movimentos estavam disfarçados de outras ideias e que a superficialidade ganhava corpo diante dos subjacentes propósitos que regiam o movimento.
Decidira então mover-se, deslocar-se de uma ponta a outra, buscando outros dizeres que não corroboram-se com os 'de sempre', com os 'de ontem'.
Que distração interessante...
Mas a busca teria sido mais conclusiva, mais apreciativa, se os olhos tivessem enxergado, se estivessem atentos, ao menos.
Bobagem, inútil ver.
"Onde está o seu trabalho, senhorita?", "quanto vale o que você diz?", "em que lugar a senhorita pretende chegar com este tipo de boa intenção?"
Intenção?
Por que ainda escrevo mesmo?
Esqueci de fazer sentido.
"Como confiar em alguém assim?"
Manias de perguntador.