terça-feira, 10 de julho de 2012

de um tempo

Hoje, Doraleia despertou depois de um tempo
foram anos, longos anos por entre brumas delicadamente construídas
A menina Doraleia, entulhada de costumes, de hábitos considerados toscos, 
olhou-se no espelho
Tanto tempo passado
formas esquecidas, ideias trasmutadas, contornos esfumados
E tudo bruma,
um imaginário habitado por manias de ego, por vontades próprias, por descuidadas pretensões
Mas, hoje, bem hoje, as brumas deram pra se desvanecer
e, lentamente, os olhos, a boca, os cílios, os contornos dos ombros, as mãos
toda a silhueta se refazendo diante de si, diante dos outros, diante da superfície espelhada
Doraleia observava-se, ruminava em seus pensamentos ideias de si, de um outro si, um si desconhecido, nunca avistado com aquelas formas, formas de dúvida, de incerteza, de ansiedade.
Observava detalhe a detalhe, minuciosamente, como se pudesse ir compreendendo para onde o outro si a levaria.
O olho olhava para dentro e via cá fora
enquanto fios prateados brindavam-lhe a vista
encenavam para ela a passagem dos dias
dias de esquecimento, dias de coragem, dias de dúvida, dias de solidão.
Menina Doraleia deslizava frente ao espelho, rente a parede, devagarinho, até que os joelhos tocassem o chão. 
As mãos no rosto 
os olhos no horizonte
e as veias pulsando vibrações de folhas tilintando em forma sonora de varais abarrotados em  dia de ventania.
Ventania que levara a bruma, espalhando-a por todo o espaço
A bruma agora é parte.
Doraleia, menina Doraleia das unhas ruídas e dos olhos de pintura escorrida,
ventanias e brumas mudando-lhe os rumos
outra vez.

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