quarta-feira, 5 de setembro de 2012

uma saudade.

Uma saudade de coçar o céu da boca,
de apertar artéria torta, de sentir gosto de tempo.
Um desejo de comer pitanga no pé,
de ouvir LP contando fábulas, sentada no chão da cozinha, enquanto aprende a fazer tranças.
Uma vontade de vento nos olhos,
de brisa no balançar dos cílios do alto da garupa.
Ou no alto da primeira corrida apostada de bicicleta.
Uma memória de raspar os tachos e de esconder as provas do crime.
Lembrança de casa na árvore, de corrida no milharal, de joelho na terra e de tesouro secreto.
O anel de brilhantes do doce da padaria, o entardecer na praia.
Doce, doce saudade.
Risos entre lágrimas, sons dos primeiros passos, feijão queimando na panela.
Uma vitrolinha partida, um anjo sem asas.
Uma saudade das palavras de antigamente.

Assim, despertara Doraleia, cheia de memórias, transbordando de sentidos passados e futuros, entrelaçados no hoje.

Hoje é dia de saudade, pensava insistente.

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