quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ainda aqui.

Nada como um distanciamento de si e das situações cotidianas. É bom sair, olhar e ver coisas diferentes, outros lugares, ou os mesmos com outros olhares. Uma viagem é bem interessante pra causar essa "sacolejada" na vida. Não que possamos viver em constante distanciamento, contudo, vale a experiência, vale a mochila nas costas e a vontade de desbravar e, vale ainda mais o “como se volta depois que se vai”. Acho que devia destreinar meus sentidos e deixá-los buscar novos sistemas referenciais, novas intensidades e outros limites pra mim e para o que eu gostaria de tornar meu (nem que, momentaneamente meu). O contato com o não-cotidiano faz bem, renova o sangue que circula nos pensamentos e o ar que passeia nos pulmões. Por vezes, a viagem não precisa se dar em uma configuração pré-estabelecida, é preciso reconsiderar, causar em si uma ressignificação de conceitos e olhares e buscar no mesmo, no comum, aquilo que nem sempre pode ser visto sem uma “atenção” diferenciada. Falo mesmo de situações corriqueiras, de músicas ouvidas, de poemas sentidos, de leituras feitas, de roupas vestidas, de cheiros deixados e de sutilezas que andam esquecidas. Afastar, rever e voltar a ver. Sem rodeios, nem excentricidades, falo de voltar a ver, ouvir e sentir de um modo particular, ver ao longe, depois do perto e ver o perto depois do longe. A cidade ainda está aqui, as pessoas ainda "circulam", e os sentidos, todos eles, ainda são nossos e dos outros.



Agora: um Leminski:

"já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma"

2 comentários:

  1. Como sempre: muito bom! Estou tentando fazer isso no caminho diário, afinal o semi direto faz sempre o mesmo caminho... Quem sabe eu descubra mais alguma árvore no meio do caminho :*

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