quinta-feira, 25 de abril de 2013

Indecorosamente

Das certezas que Dora tem e tinha e dos confrontos relutantes gestados entre certezas e as contradições inerentes a elas, apenas uma parecia permanecer intocável.
A primeira vez que Dora provara o sabor de uma nota que tocava o fundo do olho da garganta, ela soubera que poderia encontrar aquele sentido onde quer que estivesse.
Sem repetições frouxas ou decorativos dizeres, só ela e as memórias de um tempo concorrente, co-ocorrente.
Tantas certezas abandonadas na beira da estrada e tantas ausências cantaroladas na expectativa de uma atenuância silenciosa.
Falta do que fazer, falta do que pensar, falta do que comer.
A certeza de um naco de cada um dos que estão e dos que são.
E, ali, intocável, uma porção de caquinhos brilhantes em formas de sons, materializando a experiência do que não se pode dizer e que ao ser tocado se esvai, se esfarela no tempo feito palavras que impetuosamente insistem em dar corpo às auroras, aos parélios, aos penitentes e aos catatumbos.
A certeza era dessas que não se pode sentir, dessas que abstraídas do seu espectro perdem a opacidade que faz a graça.

https://www.youtube.com/watch?v=eAA3KF-VBac

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