terça-feira, 9 de abril de 2013

Dos calares.


Parecia que olhava de dentro dos olhos do mundo.
Cheia de fome de tudo
mas invadida pelo peso de um receio intermitente.
Com a voz quase muda, num sussurro, deseja 'bons dias' e 'tardes'
Quase inaudível, seguia cabisbaixa. com medo de desaparecer antes que chegasse ao final do corredor.
Entrava nas salas com o olho inundado pelo desejo, mas com a voz engasgada pelos silêncios.
Uma disputa sem tréguas.
Diziam: "entra muda e sai calada, qual será a dessa minúscula representante de seres humanos?"
Sentada no fundo da sala de aguardos, via-se de cima, reconduzindo seus compassos.
Temerosa escrevia os pensamentos e rasgava-os. Ela ateava fogo nas mais insanas ideias.
Flutuava pelos espaços buscando um pedaço de amontoados de sensações.
Esquecia-se do tempo em que prometera recomeçar do outro lado do disco. Lados de A a Z.
E usava as potencialidades da narrativa para expiar seus surdos silêncios saturados de calares.
Não sabia dizer com ditos, preferia os zunidos.
Imagem de Venícios Cassiano: Em Teotihuacan

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