A língua vive, apesar dos esforços canibalísticos, mumificantes dos senhores que gritam em suas redomas de sem sentido.
Estagnação perfeita. Abuso de poder. Totalitarismo explicitado em discursos repulsivos, ignorantes, putrefatos.
Persistência e negação do pulso e do sangue que corre nas veias e nos sistemas que contradizem e rompem com toda a falação cansada de um mecanismo de controle absurdo e absoluto. Capados. Dopados. Submetidos. Amedrontados.
Nas veias escorre, no corpo pulsa, das paredes acinzentadas brotam, das páginas envernizadas saltam...
A língua se move, respira, circula, pulsa e constrói lugares, sentidos, formas, mundos.
Escorre e irrompe
Floresce em meios impróprios à vida.
Cheira, se manifesta, renega a tinta que a nega, que a esconde, que deturpa sua presença intensa, pulsante, exalada,
mesmo que exilada.
Apontada nas ruas, corredores e “salas da justiça” como algo que envergonha. Desprezo:
- Pobres coitados depravam a língua, ensinam errado, aprendem o torto e riem satisfeitos com suas deliciosas ilusões.
A língua se revira, se levanta, respira e emana ora taciturna, ora escandalosamente vestida de nenhum pudor. O sistema ri, ironiza a lei e sussurra em seus pensamentos os mais desvairados passos seguintes, enlouquecedores.
A língua caminha, alheia. Ignora os grilhões da hipocrisia pública e se diverte com os escorregões clássicos e com a intimidade não assumida. Porque lá no fundo, é dela que eles gostam, é ela que eles usam. Na ausência de seus queridos e salvadores prompters, o desespero a torna real, viva, assustadora.
E ela ri e espera o pedido de socorro diante de um sujeito posposto.
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