quarta-feira, 23 de março de 2011

Um eu/nós.


Cada dia que passa, fico mais apreensiva com essa dificuldade de lidarmos com o “outro”; com essa vontade insana de ignorarmos tudo que possa existir para além das nossas próprias compreensões de um “eu”. Bakhtin, um filósofo preocupado com essas questões de mundo e extramundo, escreveu sobre o outro, sobre o quanto nos tornamos nós em relação às nossas vivências e “embates” com os outros. No entanto, tudo isso parece estar esquecido, ignorado e, mesmo tendo consciência de que não existimos fora dessa lógica do “sou eu, porque não sou o outro” e sendo eu, assim sou a partir de uma longa rede de relações e construções; retomo, mesmo tendo consciência dessa sutil constatação, ainda assim trazemos entranhada uma necessidade de apontar, de negar, de excluir do círculo de interesses. Parece não importar o que nos tornamos, ou como nos tornamos. E isso, surge mascarado ou escancarado nas opiniões, construções discursivas, modos de agir, modos de tornar uma verdade, verdadeira, para um “eu” ou para um grupo de “eus”.
Distanciamento...
Mais uma vez: crenças, percepções, teorias, perspectivas ideologicamente construídas e tomadas como a melhor forma de pensar e agir (do eu/nós). Fico apreensiva. A lógica da negação do “outro” instituída nos recruta. Fico apreensiva. Um abismo.

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