terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lamiaceae



Lamiaceae caminhava contente, entre passos lentos e esvoaçantes lembranças. Lamiaceae sustentava as fronteiras, corajosa que só, enfrentava os opostos e os habitantes tranquilos de uma terra aparentemente sem cores. Respirava o mundo inteiro em palavras incessantes, mutáveis e retornáveis. Buscava sentidos e os dissolvia em ideias bailantes, estremecia diante dos olhares vidrados e desordenava certezas e incertezas, só pela graça de ver os incólumes pensadores debatendo-se à beira de abismos incertos. Ironizava escondida, na solitude de ideias distantes, inabitáveis e desencontradas. Intencionalmente, desencontradas.
Lamiaceae divertia-se ironicamente, lançando cores em espaços improváveis, em pilares desgastados e adaptados ao monocromático sintoma de uma estrutura estável. Ria-se, gargalhava da aflição de outrem, perdido em meio a tantas possíveis formas de colorir o mundo, de formar histórias e de desejar memórias. Encontrava modos de causar percepções embaçadas, de provocar verdades e de desafiar o certo, o errado, o início e o fim. Paradoxava-se toda, divertidamente, em grau elevado de inconsequência.
...
In-con-se-quen-te!
...
 Ah, se Lamiaceae soubesse o que causara com tantas palavras soltas lançadas sem destino. Ah, se ela soubesse como era capaz de invadir os acordes alheios sem reparação. Ah, se soubesse que causara certezas e incertezas, todas ao mesmo tempo, em corações e mentes despreparados para tal desafio de olhares. 

Ah!! 

E, aflitos, agora, nesse momento, incertos, sem respostas e com percepções atravessadas - com ideias contrariadas e sufocadas pela vontade de não ser, por ser - tais seres se perdem e se encontram e se esperam e não se compreendem e se olham sem ver e se falam sem ouvir e se julgam sem saber e se posicionam: definitivos, embativos e determinados.
Inauguram, então, o espaço das certezas certas, dos conceitos prontos, das respostas acabadas. Iludem-se, enquanto Lamiaceae sorri, satisfeita com a peça pregada.


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