Por vezes, não sinto, não sei onde estou, em que mês me encontro?
Meu espaço, antes limitado, vai vibrando como a última nota de um acorde sem fim que se evanesce no espaço.
Não vejo os cercos, não vejo o tempo que debulha os grãos, um após o outro, ora tímido, ora voraz, ora satisfeito, ora desajeitado.
Ao fundo, uma melodia sincera, umas palavras despudoradas e um solfejar que denuncia os pensamentos longos, distantes, reticentes.
Na tentativa do acalento, furto ideias, furto palavras, furto sentidos e jogo-os contra o espelho que me impede de ver o que me importa, mas que me fornece devaneios necessários, contidos, constitutivos. Volto às palavras –não minhas, é verdade - e elas me consolam, me embebedam do mais forte delírio de ser:
“Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.”*
Respiro aliviada. Meu ser já tem remédio.
* Trecho afanado de Manoel de Barros, encantante.
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