terça-feira, 22 de setembro de 2009

Amor Bastante



"(...)Somos falados pela linguagem". (Derrida)







Amor Bastante


quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto


Paulo Leminsk - Um poeta Marginal.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Por onde andamos?

Faz um tempo que não escrevo neste espaço. Andamos sempre tão apressados, com milhares de coisas pra fazer que acabamos esquecendo de coisas que, fazem realmente a diferença! É assim que a máquina faz o sistema ir nos engolindo aos poucos, sem que sintamos o quanto estamos presos a todas essas engrenagens da indústria, do capital. Sempre estamos envolvidos em algo, em função de um futuro, baseando nossas expectativas em ícones socialmente construídos, os mitos do sucesso, que fazem nosso pensamento girar, girar e acabar sempre em meio aos parafusos apertados de um sistema que tem por objetivo, nos usar até que não sirvamos mais, somos fruto de uma geração com a obrigação de "ser feliz", de estar na moda, de curtir determinados sons, buscando dar sempre o melhor do que temos.
Adorno estava tão certo na década de 30, quando teorizou sobre os padrões e hierarquias para a indústria cultural, indústria esta que nos coloca em prateleiras, nos separando e diferenciando pelo que temos e, não pelo que somos.
Por onde andamos? Por que o outro nos incomoda tanto a ponto de preferirmos ver apenas o que nos conforta? Enquanto pensarmos apenas no Eu, o outro não mais terá vez e, o individualismo, resultado de um capitalismo enlouquecedor, ditará as regras: ou você aceita ou está na margem,logo "marginal"!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

...


O tempo.
Cada momento que vivemos pode ou não tornar-se único, cada dia passado pode se tornar um marco, um ponto estratégico na memória, referindo-se a uma situação que valeu a pena ser vivida. E é tão surpreendente a forma como vivemos a vida, algumas vezes apenas "levando", outras tentando fazer algo que se torne memorável. No entanto, por mais que eu me esforce não consigo lembrar uma coisa de cada dia vivido até hoje, já de outros lembro-me perfeitamente de cada detalhe. Acho que isso deve ter a ver com a intensidade, com a expectativa que criamos para determinados momentos ou ainda, deve ter a ver com a forma como encaramos o mundo. É, o tempo é tão relativo, quanto a memória. Há minutos eternos e dias que passam em um fechar e abrir de olhos. E, às vezes penso "o que estou fazendo para que o dia de hoje não passe apenas, mas para que eu me recorde dele com alguma satisfação ou realização?"

terça-feira, 21 de julho de 2009

Palavra.


Estava lendo outro dia umas poesias de Paulo Leminski e em meio a estas, uma prendeu-me a atenção em especial. São várias definições de poesia que vão desde Goethe a Fernando Pessoa, de Bob Dylan a Valery, passando pela própria definição de Leminski que diz simplesmente "poesia: a liberdade de minha linguagem". E lendo mais a fundo essa liberdade da linguagem, essas palavras que se usa para criar outros mundos, outras sensações, outros pontos de vista, começo a refletir sobre o poder da palavra, sobre o quanto se pode construir ou tornar algo possível através dela, ou quanto podemos mudar nossas vidas a partir de uma palavra mal pensada e dita em má hora. A palavra é por vezes uma aliada, por outras um algoz que, nos condena no momento em que a palavra que proferimos sai de nosso trato vocal sem passar pelo filtro essencial do pensamento e da medição das consequências. E fazemos uso constante da palavra, todo tempo, sem muitas vezes percebermos a impossibilidade de se recuar no tempo, tornando a palavra tão poderosa e tão forte. Nos tempos mais antigos, talvez o de meu avô, a palavra era algo que tinha o poder de um contrato, se algo fosse dito, estava celado um compromisso. Nos dias de hoje, essa possibilidade se perdeu, afinal a essência humana tende a um caos natural. Mas, a importância e a força que a palavra tem mantém-se presente, sendo capaz de resolver a vida ou de mudar caminhos. Como diria Maiakóvski, "uma viagem ao desconhecido".

sexta-feira, 3 de julho de 2009

As confianças, garantias e riscos


Costuma-se pensar sobre tanta coisa e, em meio a tantos pensamentos e leituras , surgiu uma questão, que parece bastante pertinente, "O que é modernidade?" Mais do que um estilo, um costume de vida ou organização social que emergiu da Europa, a partir do século XVII e que se tornou praticamente mundial. Esse período denominado “moderno” pode ser cogitado como o desenvolvimento e intensificação das descobertas científicas, assim como a autonomização e a fragmentação das ciências, a partir de métodos sistemáticos, envolvendo grandes trasnformações econômicas, sociais e políticas. Os modos de vida produzidos também foram alterados pelo desenvolvimento das instituições modernas.

Com o advento da modernidade tudo mudou, o mundo ficou mais rápido, mais caótico no que diz respeito, a tentativa de manter o sistema sob controle, no entanto, a modernidade é caracterizada, segundo Antony Giddens, pelo fato de que não se compreende todos os eventos, o que resulta em uma sensação de as coisas estarem de uma certa forma fora de controle. Para Marx, a modernidade está associada ao nascimento da burguesia e ao declínio do sistema feudal, sendo o capitalismo a força que modela o mundo moderno.

Mundo esse que é muito curioso, afinal quando analisa-se de perto, apenas um desses sutis mo(vi)mentos da modernidade, percebe-se que é mais que um período em nossos livros de História. Com isto, quero conduzir a reflexão a um ponto crucial dos tempos modernos: a Confiança. Sim, isso mesmo, a confiança. Pode parecer que isso não faz sentido, afinal vivemos em mundo em que não se pode confiar em ninguém, mas se lembrarmos de quanto somos dependentes de sistemas que estão fora do nosso campo de conhecimento veremos que, isso tem um fundo de sentido. É interessante, pois outro dia estava refletindo sobre como não domino a forma como funcionam efetivamente o avião, o carro ou o ônibus (tão presente na minha vida) e, mesmo assim, não exitamos em embarcar em algum desses veículos símbolos da nossa luta contra o tempo. O mesmo acontece quando vamos ao médico, ao dentista, ao mecânico, não é que se confie cegamente, mas costumamos ter automatizado o sentimento de que tal sistema não pode falhar justo com a gente. E não falo apenas da física ou da matemática envolvida, mas também da mecânica, das condições climáticas, da capacidade do profissional que ocupa um lugar porque alguém disse que ele poderia ocupar e, nós, na maioria das vezes desconhcemos as origens e capacitações desses "alguéns", mas tudo bem, confiamos mesmo assim. Afinal é necessário, essencial para a sobrevivência em meio a um mundo que anda rápido demais. As decisões precisam ser tomadas e como já diziam por aí "tempo é dinheiro", por isso decida-se logo e, na pior das hipóteses, conte com a sorte.

É, é assim mesmo. Corre-se riscos, esperando que as pessoas e os sistemas "funcionem" como devam funcionar. É mais ou menos isso que vivemos diariamente, afinal a partir do momento que acordamos nesse mundo estamos expostos a fragmentação do conhecimento, das ciências e dos indivíduos que, seguem em um ritmo acelerado rumo aos limites do progresso e das consequências de todo o caos gerado pela própria modernidade.

Assunto para se pensar. No entanto, inesgotável, tendo em vista todas as leituras possíveis e pesrpectivas a se considerar.


terça-feira, 23 de junho de 2009

Por que você tem um "Blog"?


Você já parou para observar os movimentos do mundo?? Por que fazemos escolhas, por que estamos aqui? Ou melhor, por que queremos estar onde queremos estar? Bom, tudo acontece ao nosso redor de forma intensa, paralela e muitas e muitas vezes agimos movidos pela automaticidade. Pois então, em um desses momentos de olhares dispersos e pensamentos esvoaçantes, olhei ao meu redor e percebi um fenômeno bastante curioso: praticamente todas as pessoas que conheço tem um "blog" e, aí comecei a refletir sobre esta invasão de subjetividade net a fora. E, pensando um pouco entendi que os "blogs" são uma necessidade, uma extensão do diminuto e rápido contato que temos com as pessoas. Afinal, após o advento da tal modernidade tudo se movimenta velozmente e as noções de tempo e espaço foram reconfiguradas, de modo que, o que antes era óbvio, atualmente, nos parece insuportavelmente fora das nossas possibilidades cronometradas. Claro que há o lado feliz dos tempos modernos, da tecnologia e da velocidade com que ultrapassamos as barreiras do tempo. No entanto, o lado infeliz de tudo isso está no individualismo a que fomos gentilmente "convidados", tudo se faz via internet, a qualquer lado que se vá, se for extremamente necessário vai-se motorizado. O que reflete na diminuição do contato com outros seres humanos. Por exemplo, se você precisar fazer compras e não lhe sobrar tempo, você pode entrar em um site, fazer um cadastro, escolher os produtos e "bum" tudo está resolvido num teclar de dedos e, o melhor, você não precisa sair do lugar em que está. Ótimo, podemos ter nos superado em muitas coisas, mas se você parar para pensar, é incrível como nos sentimos solitários em meio a tanta gente, em meio a tantas possiblidades. Já dizia o poeta: " Quando eu vivia e morria na cidade,eu tinha de tudo, tudo ao meu redor, mas tudo que eu sentia era que algo me faltava e, à noite eu acordava banhado em suor". Em poucas palavras, Humberto Gessinger canta o foco de minha abordagem: temos tudo, tudo ao nosso alcance, mas não temos muitas vezes alguém que nos ouça, alguém para ouvir, alguém para trocar ideias. Outras vezes até há alguém, mas nem sempre o outro quer deixar de ser o "eu" e, passar a ser o outro, porque para que o outro exista é indispensável o sacrifício, afinal o outro é também "eu".

Bom, e em meio a esses devaneios e reflexões sobre a necessidade do Homem de compartilhar experiências, pensamentos e emoções, percebi o porquê de tantos bloggers espalhados pelo mundo. Deve ser este um dos motivos que me fez criar este; combater a solidão e o individualismo, resultado de um mundo que não tem tempo para falar sobre as "inutilidades" que nos atravessam e nos transpassam pelos momentos da vida.


" Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto" (Verso de Ode Triunfal, do heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos.)