quarta-feira, 16 de abril de 2014

Ainda vou me consumir de tantas palavras que aprendi a não dizer, que aprendi a não dar forma.
Ainda vou me esvair de tantas culpas, de tantas ausências de razão, de tanto ar que me sufoca a glote.
De dentro do olho me salta um pulsar cheio de não ditos sentidos e ressentidos. De fora, me vem uma avaliação constante que me respinga na cara e me faz saber que não sei das maneiras adequadas, que perdi a intensidade na última parada e que por causa da experiência que engoli a seco muitas vozes virão ao meu encontro e eu ficarei entre elas, afogando os pedaços de um eu que só existe na abstração.
Por trás da lente do analista, explico meus não sentidos, dou formas e delimito conteúdos, ainda que desorganizadamente. Dou lugar aos anseios, arrumo os descontroles, dou nome aos excessos e tranquilizo os vizinhos dos meus sentimentos.
Disfarço a falta de entendimento com um sorriso discreto, largo palavras aleatórias na linha do tempo tentando apagar o ego que me confronta e me sufoca contra o espelho.
Calculo o tempo que leva pra que ocorram atenuações possíveis das minhas impulsivas e impossíveis contradições.
Discorro sobre o que vejo nos horizontes, traço linhas imaginárias que logo se tornam um emaranhado de fios que ligam fragmentos do passado, do presente e das minhas memórias de futuro.
Os emaranhados crescem, o caos me adormece. Sinto frio pelo que deixei de dizer, sinto um espaço em branco pelo que deixei de sentir. Acordo com fome e com vestígios de ferrugem nos olhos, nos lábios. Devolvo os caóticos dizeres e prometo não mais ignorar as partes do que fui e do que penso ser. Concluo que tudo isso é complicado demais e que escrever em primeira pessoa torna tudo isso banal, texto cansado, inapropriado. Perfeito. Aprendi que não se deve dizer sem medir os ecos, sem medir os estalos e os ruídos. Descobri que é exaustivo tentar fazer medições do que quer que seja.
Ordem: Devolva esse alterego pra gaveta e tudo fica bem. Ligue a TV, leia um livro, escreva um rascunho do que sente. Logo, o sono vem.

Acordo com o meu Leminski do lado.