quarta-feira, 26 de outubro de 2011

u-topos


Utopia s.f.
Designação
Não resignação


Nada mais que um não-lugar, que um não se aquietar.
Nada além de um não se sentir satisfeito, acabado, completo, universalizado.
Nada que se adapte e que se contente com o dizível.

Sim, incomoda a Utopia. 
Forjam então sentidos vários, sentidos outros, sentidos ideais, fantásticos, apropriados ao que se prestam.
O imaginário aparece como o não possível, como comédia e tragédia, como hilariante e inebriante aos que se divertem com um ponto de vista tomado como horizonte infinito.

Enquanto isso, incomoda, porque desassossega, porque evidencia o que deveria ficar entre nós.

"Suspenso"
"Besteira"
"Tanto faz"

E o que mais somos, se não utopias personificadas brincando de realidades?
.
..
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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Inexplicável?

Ainda que a alma transborde pelos olhos e o peito salte imprudente, ainda que o vidro embace e que os orvalhos brotem descomprometidos e incompreendidos, ainda sim, os tambores rufarão para o clarear das ideias que retornam com um outro dia.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Silenciamento (s)

Atos enganosos, ilusões mal contadas e desencontradas,
pedaços partidos de almas a bailar
por
jardins melancolicamente.
Seres flutuantes
atrapalhados a chorar pelo néctar derramado.

Nós, eles, nós outra vez.
Enganos, desencontros, ruídos vernaculares e a
arte de não entender, ou tolerar, ou de compreender.

O néctar transborda.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lamiaceae



Lamiaceae caminhava contente, entre passos lentos e esvoaçantes lembranças. Lamiaceae sustentava as fronteiras, corajosa que só, enfrentava os opostos e os habitantes tranquilos de uma terra aparentemente sem cores. Respirava o mundo inteiro em palavras incessantes, mutáveis e retornáveis. Buscava sentidos e os dissolvia em ideias bailantes, estremecia diante dos olhares vidrados e desordenava certezas e incertezas, só pela graça de ver os incólumes pensadores debatendo-se à beira de abismos incertos. Ironizava escondida, na solitude de ideias distantes, inabitáveis e desencontradas. Intencionalmente, desencontradas.
Lamiaceae divertia-se ironicamente, lançando cores em espaços improváveis, em pilares desgastados e adaptados ao monocromático sintoma de uma estrutura estável. Ria-se, gargalhava da aflição de outrem, perdido em meio a tantas possíveis formas de colorir o mundo, de formar histórias e de desejar memórias. Encontrava modos de causar percepções embaçadas, de provocar verdades e de desafiar o certo, o errado, o início e o fim. Paradoxava-se toda, divertidamente, em grau elevado de inconsequência.
...
In-con-se-quen-te!
...
 Ah, se Lamiaceae soubesse o que causara com tantas palavras soltas lançadas sem destino. Ah, se ela soubesse como era capaz de invadir os acordes alheios sem reparação. Ah, se soubesse que causara certezas e incertezas, todas ao mesmo tempo, em corações e mentes despreparados para tal desafio de olhares. 

Ah!! 

E, aflitos, agora, nesse momento, incertos, sem respostas e com percepções atravessadas - com ideias contrariadas e sufocadas pela vontade de não ser, por ser - tais seres se perdem e se encontram e se esperam e não se compreendem e se olham sem ver e se falam sem ouvir e se julgam sem saber e se posicionam: definitivos, embativos e determinados.
Inauguram, então, o espaço das certezas certas, dos conceitos prontos, das respostas acabadas. Iludem-se, enquanto Lamiaceae sorri, satisfeita com a peça pregada.